domingo, novembro 20, 2005

O Estrelato

O fim-de-semana passado, enquanto fazia um zapping com o comando da televisão, parei na RTP Memória e vi uma gravação de 1959 de um tipo careca a imitar o Louis Armstrong. Emitia os mesmos sons da sua boca, embora não articulasse nenhuns vocábulos, e na parte instrumental da música fazia os mesmos solo de trompete, embora também com a boca. Uma coisa de atrás da orelha! A música seguinte era o já bem conhecido, e também já bem esquecido A Mula da Cooperativa e logo percebi que era o Max.
Continuei a ver o programa, deliciado. Aquilo sim, era uma estrela de TV! Sucederam-se alguns temas, Soldado 31 e um ou outro do qual não me lembro do nome, e acabou o espectáculo. Rapidamente fui ao google investigar sobre o tal Max.
Maximiano de Sousa nasceu na Madeira em 1918 com o sonho de vir a ser barbeiro e violionista. Começou por ser alfaiate, mas a música rapidamente tornou-se parte da sua vida, tendo sido um dos fundadores do Conjunto de Tony Amaral, que, depois do sucesso madeirense, conquistou Lisboa. Nesta altura enverdou por uma carreira a solo, gravando temas como Noites da Madeira, Bailinho da Madeira, A Mula da Cooperativa e Soldado 31. Durante os anos 50 e 60 a rádio e televisão eram o seu palco, sendo um dos artistas mais queridos do público, uma estrela como hoje não se encontram muitas. A sua fama foi decrescendo, sendo que nos últimos anos da sua vida foram apenas os direitos da indústria discográfica que o sustentaram. Max morreu em 1980, e até hoje tem vindo a cair no esquecimento por parte de muitos.

domingo, novembro 13, 2005

Dar nós na fita



Há uns tempos atrás, perguntei-me a mim mesmo se na história do cinema alguma vez algum realizador tinha sido suficientemente astuto para filmar um filme de um só take. Ou seja, quase filmar uma peça de teatro, mas fazê-la parecer um filme. Esta pergunta foi-me respondida quando esta semana vi pela primeira vez Rope de Alfred Hitchcock, que saiu com o Público na última sexta-feira a propósito de uma colecção com vários filmes do realizador.
Foi em 1948 que Hitchcock adaptou Rope's End a peça de Patrick Hamilton para o cinema, filmando-a em 8 ou 9 takes (não num único take apenas porque a duração máxima de um rolo de filme a cores na altura era de 10 minutos). Todos estes takes são articulados entre eles de uma forma pouco perceptível, mantendo uma linha condutora de uma imagem para a outra, uma continuidade na acção. Para estas passagens de um pedaço de fita para outro a solução encontrada foi fazer passar um dos personagens à frente da câmara ocupando todo o campo com uma imagem uniforme - as costas de um casaco, por exemplo, servindo assim como fim de uma filmagem e princípio da seguinte.
Apesar do filme contar com James Stewart no seu elenco, a estrela principal aqui é a câmara. Todo o cenário e movimentação dos actores foram concebidos a pensar na câmara que se movimentava pelo cenário acompanhando a acção. Este era o primeiro filme que Hitchcock filmava a cores, e uma câmara a cores na altura tinha enormes dimensões, o que dificultou ainda mais a rodagem do filme. Escusado será dizer que se houvesse o mais pequeno erro de representação ou filmagem aos 9 minutos do take não havia outro remédio que não começar de novo.
O filme, tal como a peça, trata do assassínio de David Kentley por parte de dois amigos seus - Brandon Shaw (John Dall) e Phillip Morgan (Farley Granger) - que o cometem apenas por prazer - uma procura pelo crime perfeito. O desafio torna-se maior quando após consumado o acto os assassínos convidam os amigos, família e noiva da vítima para um jantar servido em cima da arca onde escondem os corpos. O jantar - um verdadeiro ritual de culto ao crime perfeito - torna-se cada vez mais estranho à medida que a acção avança, com Rupert Cadell (James Stewart), um antigo professor da vítima e dos seus dois "amigos", que vai suspeitando o que se passa a partir de pistas deixadas pelos autores do crime. Toda a acção desenrola-se num apartamento em New York, exceptuando os créditos iniciais, onde é filmada uma rua da mesma cidade apenas para Hitchcock poder fazer disfarçadamente a sua característica aparição enquanto figurante.
Apesar de não ser o típico filme de Hitchcock e de não nos prender tanto ao enredo como outros tantos seus, razões para ver Corda não faltam, a começar na experiência tecnológica de Hitchcock e a acabar na performance dos actores, passando pela cenografia.



Rope
Realização: Alfred Hitchcock
USA, 1948

terça-feira, novembro 08, 2005

Message in a bottle

ver   filme

"Um e-mail chega num segundo, uma mensagem numa garrafa pode levar talvez anos."


Na ilha de Terschelling, no Norte da Holanda, Johan Wolf, um reformado professor de 63 anos tem um hobbie fora do comum. Colecciona mensagens com a particularidade de terem chegado por mar, dentro de garrafas.
C-Mail - Quando o Correio Chega Por Mar é um documentário de Filipe Araújo que foi seleccionado pelo International Video Reporting Award.

ver filme

sexta-feira, novembro 04, 2005

Não há coincidências

clicka para aumentar

Há uns tempos, enquanto via o Kill Bill volume 2, tive um dejá vu. Durante a cena de girl fighting entre a Uma Thurman (The Bride a.k.a. Black Mamba) e a Daryl Hannah (Elle Driver a.k.a California Mountain Snake) reconheci imediatemente os gestos de Mia Wallace durante a sua overdose em Pulp Fiction. A mesma actriz em dois filmes do mesmo realizador. Será mera coincidência? Não creio. Um génio como Tarantino não deixa estes pormenores ao acaso.

quarta-feira, novembro 02, 2005

"A voz"

Só na segunda-feira é que percebi realmente o que os tipos da Radar queriam dizer quando falavam n'"a voz" ao referir-se a Antony and The Johnsons. Era Maio, e durante as minhas viagens diárias de carro ao som da 97.8, ouvia vezes sem conta (em repeat, como eles diriam) um anúncio ao concerto de Antony na Aula Magna. Ouvia-se o locutor a dizer qualquer coisa como: no próximo dia 31, Lisboa vai receber a voz, e por trás um tipo com uma voz um tanto ao quanto particular a cantar "forgive me / let live me / set my spirit free". Não conhecia o tal Antony, nem os seus amigos Johnsons, mas desde logo aquilo entrou-me no ouvido (e não apenas pela quantidade de vezes que ouvi o anúncio e uma qualquer música do seu disco "I am a bird now" que passava depois). Fiquei com curiosidade de ir ao concerto, mas rapidamente soube que os bilhetes estavam esgotados.
Entretanto passaram-se uns meses, fiquei a conhecer o disco do qual apenas algumas das músicas me eram familiares, e soube que Antony and The Johnsons voltavam a Lisboa. Desta vez apressei-me em comprar o bilhete, e lá estava no Coliseu para os ouvir.
Desde logo deparo-me com a figura de Antony, a de um ser um pouco andrógino não muito à vontade, tímido, mas no momento em que começa a entoar os primeiros versos das suas canções, esta figura torna-se muito mais forte e ganha um novo sentido. A sua voz e os arranjos transformam o espaço da sala numa dimensão diferente. As melodias melancólicas remetem-nos para um estado de espírito de calma e paz, apesar de o conteúdo das letras remeter-nos para um universo não tão pacífico.
Não tão positivo foram as sucessivas palmas do público no princípio de cada música, que nos faziam perder os seus primeiros 3 versos. E até mesmo numa ocasião, o público bateu palmas numa pausa, fazendo com que os actuantes perdessem a vontade de acabar o tema. Um público indisciplinado, ou talvez ignorante.
No fim, talvez tenha ficado com uma ligeira impressão da similaridade dos temas entre si, mas ainda assim, com uma sensação de satisfação e os 20 euros do bilhete dados como bem gastos.

Pouco sobre muito

Pouco sobre muito traduz a ideia de que cada vez mais sabemos menos sobre mais áreas. O conhecimento que temos nos dias de hoje tende a ser muito mais superficial do que era há alguns anos atrás. Com a facilidade de divulgação desde o aparecimento dos grandes mass media como a televisão e internet (e o culto inerente aos mesmos) o indivíduo abrange muito mais áreas de conhecimento do que anteriormente, mas com menos profundidade sobre cada uma delas.
Assim, não me proponho a escrever num blog sobre um tema em concreto, mas sim sobre todos aqueles temas que me interessarem, correndo sempre o risco de não aprofundar muito sobre cada um deles, e talvez algumas vezes escrever sob um ponto de vista de principiante, ou em casos extremos, de leigo.


An architect is a man who knows a very little about a great deal and keeps knowing less and less about more and more until he knows practically nothing about everything.
An engineer is a man who knows a great deal about very little and who goes along knowing more and more about less and less until he finally knows practically everything about nothing.
A contractor starts out knowing practically everything, but ends up knowing nothing about anything, due to his association with architects and engineers.
Esta foi uma anedota (não chegaria a tanto) que ouvi uma vez. Sou estudante do 3º ano de arquitectura e uma das razões pelas quais escolhi esta formação foi exactamente pela multiplicidade de áreas que a arquitectura abrange (ou das quais depende), como é ilustrado na primeira frase do trocadilho.