Il Gattopardo de Luchino Visconti é a adaptação do romance de Tomasi di Lampedusa sobre a unificação de itália iniciada por Garibaldi na segunda metade do século XIX. O Princípe Fabrízio Salina (Burt Lancaster) é um aristocrata siciliano que tenta manter a sua posição numa Itália em revolução e unificação. Embora Tancredi (Alain Delon), seu sobrinho, esteja do lado dos liberais revolucionários, Fabrízio continua do seu lado e inclusivamente apoia a sua união com Angelica (Claudia Cardinale) filha de Don Calogero (Paolo Stoppa) um rico burguês que vê o seu poder aumentar. É assim um casamento de conviniência, trazendo de volta a riqueza a Salina e o nome a Calogero. Toda esta intriga dá-nos um muito bom retrato do contexto histórico da época, uma história particular (uma de muitas), que nos conta a história geral. Para não falar depois do realismo que é dado durante toda a narrativa, literária e imagética.
A representação é fantástica, com um Burt Lancaster fora de série. Alain Delon está muito bom e Claudia Cardinale além de lindíssima é uma belíssima actriz. E toda a beleza desta última, é exponenciada pela personagem que encarna. Angelica não sendo um anjo, é uma figura quase divina. Uma musa que figura em si a beleza, a sensualidade e o desejo.
Possivelmente o melhor filme do realizador, e também o mais auto-biográfico. Visconti era um aristocrata (para além de comunista e homossexual, uma mistura explosiva, no mínimo). Conta-se que Burt Lancaster, que até então tinha sido actor de um registo de filme totalmente diferente, não sabia exactamente a postura que deveria ter como aristocrata. Visconti simplesmente pediu-lhe para o imitar.
Todo o filme tem patente a temática da morte, desde a primeira cena em que é encontrado um soldado morto no jardim de casa dos Salina. Tendo a sua apoteose na cena em que Lancaster contempla o quadro que ilustra a morte durante o baile, e no final quando o mesmo se ajoelha perante o padre que passa para dar a extrema unção na cena final. Esta ideia de morte é a metáfora do fim de um sistema social, a morte de uma classe social, a aristocracia.
E já agora acrescento o tema do vento. O mesmo vento que no início faz abanarem as cortinas enquanto se reza, apaga as velas que iluminam o papel que Don Calogero lê enquando transmite ao povo o resultado das eleições, nessa cena tão caricata. O vento que faz mexer a bandeira tricolor ou a toalha branca do piquenique (que faz lembrar a bandeira branca aristocrata).
A ideia com que fiquei é que muitos, senão a maioria, dos realizadores de hoje tinham editado o filme numa hora e meia. Metade do que vemos na versão integral. O que se perdia seria criminoso. Todo o ritmo a que o filme se desenvolve, os pormenores que são focados, os planos que em vez de serem apenas um, são talvez dez, fazem deste uma obra prima.
Pegando por exemplo na viagem da família Salina desde a sua casa de férias até ao palácio, aquilo facilmente seria reduzido a menos de 30 segundos de filme, apenas com recurso a um plano. Visconti utiliza talvez 10 planos da caravana a subir a fantástica paisagem da montanha, introduz a cena da estrada barricada, a cena da dormida a meio caminho, e tudo isto com mestria. Dá-nos mais pormenores sobre as personagens, sobre a situação que se vivia, a opinião do clero (neste caso do representante em questão, o padre) sobre os aristocratas como o Príncipe, um pouco mais de indicações da paixão de Concetta por Tancredi. Para não falar na odisseia visual que nos proporciona. Todo filme é exemplo do que falo.
Imperdível.
Il Gattopardo - Versão Integral
Realização: Luchino Visconti
Itália/França, 1963
Em projecção no cinema Nimas
1 comentário:
Caro Francisco,
Excelente a sua visão do filme.
Acabo de vê-lo e acho que ainda o verei algumas vezes mais nos próximos anos.
Parabéns pelo seu blog.
Sou fotógrafo também, moro em Miami, e convido-o a visitar o meu estúdio quando vier aqui.
Cesar Barroso
www.cesarsphotos.com
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